Brixham, Inglaterra

Depois de três dias de mar, enjoo intensivo, turnos às três de manhã - TERRA, finalmente! Esta minha participação no School at Sea tem sido um desafio, em várias dimensões. Começou com a parte emocional, em que senti, e continuo a sentir, as dificuldades inerentes às despedidas, ao estar longe de casa, do conforto familiar.

Depois das despedidas, as diferenças culturais atacaram. Entre holandeses e portugueses, a diferença é muita. Principalmente no aspeto linguístico. Não consigo perceber o que dizem e sinto, em muitos momentos, uma frustração enorme. Será que vou conseguir aprender esta língua? Espero que sim, estou a trabalhar nisso! Para além disto, estou-me ainda a adaptar a uma rotina, a uma realidade completamente diferente. O meu organismo tem que se adaptar à agitação marítima. Tenho que me habituar a este novo horário, em que acordo as três da manhã e volto para a cama às seis. Tenho que me adaptar à nova alimentação. Ah, e todas estas mudanças se verificam mediante a impossibilidade de ligar à família ou enviar uma mensagem aos amigos, em busca de força. Várias vezes me pergunto – será que todas estas mudanças valem a pena? Ou ainda – será que vou conseguir mudar tanto?

Não sei. Mas vistas bem as coisas, tenho seis meses para descobrir. Neste momento estou em Inglaterra. Partimos, rumo a Tenerife, dentro de três dias. Estes três dias de mar foram únicos. Nunca antes tinha experimentado o isolamento inerente a estar fechada com outras 44 pessoas, num espaço extremamente confinado, sem escapatória possível. Nunca antes me fui deitar com a roupa que utilizei durante o dia, com medo de ficar mal disposta por ter que trocar de roupa. Nunca antes tinha içado uma vela às quatro da manhã, com salpicos de ondas a molhar o meu equipamento náutico. Nunca antes tive um horário específico para tomar duche, porque toda a água tem ser cuidadosamente racionada. Nunca antes vivi no mar. O horário é rigoroso e tenho que o cumprir à letra. Tem sido um desafio fantástico. Ao contrário do que achava, as dúvidas iniciais, o medo e as saudades não desapareceram. Aliás, acho que nunca vão desaparecer. Vão é, à medida que o tempo passa, sendo atenuadas pelas novas e desafiantes experiências por que vou passando. Vão sendo atenuadas por tudo o que de fantástico há neste projeto. Gosto muito de pensar que em menos de 15 dias estive em Portugal, na Holanda e em Inglaterra. Próxima paragem é Tenerife. O entusiasmo que é estar prestes a chegar ao clima quente, ao Sol e ao mar calmo começa a surgir! Blue Ju